"Ah, isso são tudo bandas que aparecem nas revistas do Metal"

- Sabes, ela até tem umas fotografias com uma edição interessante mas é toda das rastas, dos cães, dos alargadores e das pulseiras nos tornozelos. Claro que ia descompensar. Tu também descompensavas, é por isso que gosto de ti. Descompensamos pelas mesma razão e, portanto, não nos obrigamos a assistir a coisas deprimentes e a estar em ambientes insuportáveis "por amor". Olha... gostavas de repetir?
- Claro.

Um Dia Frio

- Sabes... estava a lembrar-me daquela curta sobre a vida deprimente de uma família lisboeta confinada a um apartamento com um gato... há um encanto triste nesse filme... que se aprende a sentir quando se está muito tempo enfiada aqui... Mal um raio de sol brilha, tudo parece melhor, tudo tem de parecer melhor. Se não fizermos esse esforço, enlouquecemos. É caro ser louco, dizem as estatísticas; mais caro que ser diabético. Ontem não entendeste, pois não?
- Não.

à espera da dor

- E tens falado com ele?
- No princípio sim, mas depois queria mais é que ele morresse.
- E quantas vezes lá vais?
- De três em três meses.
- Isso é pouco para pôr as ideias em ordem.
- Sim, mas eu não tenho nada para organizar. A medicação trata disso, é uma espécie de PDA, está lá tudo e eu deixo ir. Vou-te contar uma coisa. No outro dia sonhei que ficava com as Barbies da minha prima Benedita. Afinal, ela está num convento, não precisa delas para nada. Tenho uma enorme necessidade de me sentir altruísma... com coisas. Odeio pessoas. Odeio mesmo pessoas. Quando tenho de ir ao Chiado e estão lá aqueles tipos com os cães, aqueles tipos que têm aspecto de terem fumado umas cenas muita loucas ontem à noite... Tenho mais pena dos cães do que deles. Tenho mesmo pena dos cães... e eu não gosto de cães. Cheiram mal e são dependentes. Mas os gatos são adoráveis, têm almofadinhas e há dias em que chego a casa e a minha gata cheira a goluseimas, não sei como. Também é giro quando cheira ao perfume da minha mãe... Entendes?