24 de setembro de 2009

primordial dwarfism

- Vou ler sobre o corporativismo e tentar não adormecer.
- Bem, Estado corporativo e sonolento...
- Com os monárquicos e os católicos a baterem palmas à indústria de latas de sardinhas...
- Sim, eles gostam de tudo o que é conserva!

21 de setembro de 2009

supernumerary fingers

se eu hoje estivesse com disposição para escrever alguma coisa, esse post chamar-se-ia "supernumerary fingers".

estariam todos, possivelmente, enfiados garganta abaixo numa tentativa de vomitar o pecado e o péssimo jantar de hoje e seriam o encanto das senhoras que fazem manicure já que poderiam cobrar por quatro mãos.

19 de setembro de 2009

revisitando... me

Era uma vez uma auto-estima tão diminuta tão diminuta que se perdeu na cabeça de um alfinete.

Era uma vez um ego tão mirrado tão mirrado que o engoliram por pensarem que era uma passa.

Era uma vez uma pessoa que se tinha tão pouco em conta que nos jantares de família punha sempre um prato a menos.

Era uma vez um amor-pró prio tão massacrado pelas intempéries do cabisbaixismo que andava de pernas para o ar.

Era uma vez dois pensamentos tão diminutivos do "self" que ele se extinguiu e agora está no Céu com os dinossauros.

10 de setembro de 2009

I wanted to make a statement

I hate you.

foot-binding

és a junção das paredes e do tecto
quando me sento ao teu colo nas
catedrais e a palma da tua mão se
instala na vertical na base das minhas costas
e te sussurro que gosto
no escuro dos vitrais
com o meu nariz enfiado nos teus caracóis e inspiro.

A doce dança entre o sagrado e o profano...

...pensámos nós.
Num postalinho autografado, olháva-nos, antes da hora de almoço, um senhor com aquela barba que toda a gente parece ter tido algures durante os anos 70, as mãos cruzadas de forma muito dramática debaixo do queixo e os olhos do tamanhos de pires de café. A cor de sépia tornava tudo muito mais envolvente e misterioso.
O seu nome... Marcos do Vale. O seu ofício... Hipnotizador e ilusionista. A nossa reacção... o riso.
Ficámos, mais uma vez, fascinados. A Tia, uma senhora de religião, embrenha-se no culto do profano, de coisas que roçam a bruxaria e o ilógico, num controlo e fascínio do Homem que só Deus deveria ter e conseguir provocar.

Dias depois, revelou-se ante mim o enorme poder da Internet. E numa curta e iluminadora pesquisa, a Tia voltou a desiludir-nos. Marcos do Vale era, afinal, o alter ego de um padre. A quem até lhe foi dedicado um vídeo no youtube...

Qual será a próxima machadada neste nosso coração que acha que não existem seres puros?

A folha de jornal, sempre a folha de jornal

Desembrulhei-a, no pátio, debaixo do toldo verde e daquela valsa irritante de moscas.
A notícia entusiasmou-me. "Matrículas CU causam [inserir palavra entre indignação e alvoroço divertido] na Margem Sul". O 25 de Abril, pelos visto, e sem pudor, tinha trazido o CU à rua. Já todos podiam dizer " Hoje não, que tenho de lavar o CU" ou "Acho que não fazia mal levar o CU à inspecção". Éramos livres para fazer trocadilhos que roçavam o inadequado e tal notícia tinha divertido ou chocado a Tia. Cheguei mesmo a ouvir aquela voz, cuja presença me é constante, a dizer um:
- A Tia era danada para a brincadeira!
Eis senão quando viro a página e encontro uma notícia sobre a tentativa de assassinato do Papa João Paulo II.
Olhámos um para o outro e fizemos aquele esgar complexo mas institivo que dizia, suspirante, "era bom demais ela ter guardado isto pelo CU".
Ela que guardou todos os cartõezinhos de profissões de fé e primeiras comunhões a que foi.

A caixa, sempre a misteriosa caixa

A Tia, conta-se por aí, era uma senhora casta e devota, dedicada ao seu irmão mais velho; este escolheu o sacerdócio como mode de vida, seja pela crise de fé que se viviam naqueles tempos e que ele desejava reverter, ou seja porque tinha mais uns oito irmãos e a vida de padre o poderia livrar de alguns encargos pesados relacionados com a vida no campo.
Viviam juntos, tinham uma criança a seu cargo que, durante longos anos, o meu pai pensou ser filha deles.
Senhora séria, facilmente confundida com uma daquelas actrizes dos anos 30 ou 40, de voz esganiçada daqueles musicais filmes portugueses, a Tia surpreendeu-nos.
No idos anos 80, guardava ela a página de um jornal. Ainda não está quebradiça. Encontrei-o dentro de um pequeno baú de madeira, com imagens orientais talhadas. Leia-se "imagens que fazem lembrar qualquer coisa como a China ou o Japão e que os ocidentais incultos não conseguem distiguir". Até o trinco é semelhante à caixinha que eu possuo e que está cheia de guias dos museus de Bruxelas.
E o cheiro das caixas é igual. Das análises clínicas aos papeluchos da segurança social, incluindo o tal jornal e uma dentadura, tudo cheira a guias de museus. Sei-o, cheirei todas as coisas uma por uma. Até duas Nossas Senhoras de Fátima que pareciam ter brilhado no escuro... há muito tempo.