11 de dezembro de 2017

Miopia cerebral

No outro dia, passeava eu perto do castelo de Guimarães quando ouço uma vozinha universitária, semi-extasiada, a proferir as seguintes palavras "Eu quando venho a um sítio destes não me sinto em Portugal, não parece Portugal".
Por pouco não contive a minha vontade de a empurrar muralha abaixo. Mas depois pensei. Pensei que tinha pena desta pobre criatura, com sotaque "lá de baixo", que sofre da já clássica miopia de uma geração que voa para qualquer lugar da Europa assim que recebe uma promoção da Ryanair mas que se recusa a conhecer o seu próprio país e todos aqueles sítios que, situando-se nele, não parecem dele.
Esta moça que, muito provavelmente, vive do e para o Facebook, onde incontáveis vezes algum iluminado partilha "Os 7 lugares mais mágicos de Portugal" ou "21 sítios incríveis em Portugal" (provavelmente sem lá ter estado nem tencionar lá ir), diz que não se sente nesse mesmo país.
Onde se sente ela? Na Rodésia? Na Checoslováquia?
Talvez esta pobre alma tresmalhada do caminho da Portugalidade ficasse apoplética e à beira de um fatídico desmaio se visitasse Monsanto ou Marvão, ou qualquer outro lugar de espectacularidade superior ou equiparável à do castelo de Guimarães.
Tanta formação e informação entregue aos bichos que nem lhe chegam sequer a sentir o cheiro.
[Fotografia tirada no Castelo da Arnóia, Dezembro 2017]


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