Que resta na ausência da inquietação? Será que sobrevive a eloquência ou que se perde o encanto do desespero?
Vejo-me a braços com novos projectos, cada um deles destinado a fracassar ou a ficar incompleto. Não consigo evitar. Do mesmo modo que não consigo superar o que, dizem, é patológico, endémico, e me obriga a entreter as mãos para evitar pensar. A ideia assusta-me. Sinto que estou a fugir, com a estúpida elegância de uma orca a sufocar numa loja de cristais, àquilo que profundamente me perturba.
Fecho-me em infantilidades. Conjugo-as, corrompo-as, com imagens eróticas e planeio trabalhos de ligas numa Barbie dentro de uma televisão verde, de cartão.
Com o seu ar angelical, quero mostrar dela o que não aceitam que mostre de mim. Quero que vejam nela o que não concebem em mim.
Queria posar nua, cabisbaixa, o olhar acutilante posto na câmara.
Queria ser vítima, actriz, usada, abusadora e arrepender-me no fim.
Queria ser eu, ele, sem ele, em mim.
Queria calar, engolir, esconder, fugir.
Mas não posso, é disso que me tentam curar.
Silêncio
Há 1 ano
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